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Alerta de crise hídrica e os impactos para o Mercado de Energia

Publicado em 29 de julho de 2021

Com pouca chuva e armazenamento dos reservatórios em baixa, a expectativa é de energia mais cara nos próximos meses. Mercado livre de energia possibilita maior previsibilidade nos preços e isenção de bandeiras tarifárias.

O impacto de falta de chuvas já pode ser percebido na fatura de energia elétrica, com o acréscimo da Bandeira Vermelha patamar 2 – mecanismo que incide um custo extra de R$6,243 a cada 100 kWh consumidos. O custo extra representa o acionamento de usinas térmicas para garantir o suprimento de energia. Estas usinas são mais caras em relação às grandes usinas hidrelétricas, em termos de custo unitário por kWh de energia gerada. Consumidores associados ao mercado livre, por não adquirirem energia das distribuidoras, estão isentos deste custo extra representado pela Bandeira Vermelha patamar 2.

Na quinta-feira, 27 de maio de 2021, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) indicou a necessidade de coordenação institucional para enfrentar o cenário de baixo nível dos reservatórios. O alerta de risco à segurança de fornecimento de energia ocorre nesse momento devido ao ciclo de chuvas muito inferior à média histórica. Maio e junho representam o início do período de baixa hidrologia, com reflexo direto nos reservatórios de grandes usinas hidrelétricas. Este ciclo segue até outubro e novembro, quando o aumento das chuvas eleva a capacidade de armazenamento nestes reservatórios. O acompanhamento do Operador Nacional do Sistema (ONS) sobre o armazenamento dos reservatórios no Sudeste, região mais representativa do sistema, revela a situação preocupante em relação ao mesmo período do ano anterior: 

Os dados indicados pelo ONS demonstram que os próximos meses serão desafiadores, com os níveis de Energia Armazenada (EAR) podendo atingir patamares extremamente baixos no segundo semestre de 2021. Estes dados revelam que a EAR nos reservatórios do Sudeste encontra-se aproximadamente 35% abaixo do que foi registrado no mesmo período de 2020.

A crise hídrica que foi reconhecida pelo CMSE e pelo Governo Federal leva a um quadro de instabilidade de preços de energia. Se o Custo Marginal de Operação (CMO) do sistema indicar que está mais cara a geração do kWh, custos extras serão repassados às faturas de energia dos consumidores do Ambiente de Contratação Regulada (ACR). Já os consumidores do Ambiente de Contratação Livre (ACL) têm uma grande vantagem neste cenário. Por ter os seus contratos de energia firmados diretamente com os fornecedores ou comercializadores, os preços de energia são pré-definidos, permitindo maior previsibilidade e proteção contra eventuais instabilidades de preço.

Por que a falta de chuvas impacta o quadro elétrico? 

A falta de chuvas afeta severamente o quadro de fornecimento de energia porque o Brasil tem uma matriz elétrica dependente de fontes hidráulicas – usinas hidrelétricas com grandes reservatórios. Isto conecta fortemente o cenário elétrico com o ciclo hidrológico. Ainda que usinas hidrelétricas sejam limpas – em termos de emissão de carbono se comparadas às usinas térmicas, por exemplo – o domínio desta fonte na matriz elétrica frequentemente acentua crises hídricas vivenciadas no Brasil. Além de um cenário de dificuldade para o abastecimento de água para consumo, a falta de chuvas também acaba por impactar a geração elétrica. 

Expandir o parque elétrico brasileiro para outras fontes é uma oportunidade também de garantir mais segurança no fornecimento, possibilitando absorver dificuldades oriundas das diferentes fontes, com menor risco de crises severas. Atualmente a matriz elétrica brasileira conta com pouco mais de 60% da energia elétrica proveniente de fontes hidráulicas – usinas hidrelétricas. Um caminho para manter a matriz elétrica limpa, sem o acréscimo de fontes não renováveis, como usinas térmicas, é o reforço à introdução de fontes eólicas (onshore e offshore) a fotovoltaicas (solar). Existem exemplos de sucesso no aumento da participação destas fontes em outros países, também mais dependentes de uma fonte elétrica. O maior equilíbrio na matriz elétrica representa maior segurança e estabilidade de preços. 

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