Por Luciano Costa – ISTOÉ Dinheiro
SÃO PAULO (Reuters) – O Brasil tem visto neste ano uma disparada no interesse de grupos locais e multinacionais de geração e comercialização de eletricidade pela certificação de sua energia limpa, à medida que empresas aumentam preocupações com sustentabilidade e compram papéis que asseguram a origem renovável de seu suprimento.
O movimento tem sido sentido por grandes empresas como a estatal paranaense Copel e a italiana Enel, enquanto o Instituto Totum, responsável no país pelas certificações às elétricas, conhecidas como I-RECs, disse à Reuters que elas devem mais do que dobrar na comparação com 2020.
Emitidos para empresas do setor de energia, os I-RECs são vendidos a clientes interessados em provar que utilizam geração limpa, como é o caso de companhias comprometidas com metas de redução de emissões ou enquadradas em índices corporativos de sustentabilidade.
“Para se ter uma ideia, fechamos o ano de 2019 com cerca de 2,5 milhões de I-RECs transacionados no Brasil. No ano de 2020, foram 4 milhões, e em 2021 nós já atingimos a marca de 4 milhões no final de abril”, disse o diretor do Instituto Totum, Fernando Lopes.
“De fato, aumentou bastante mesmo… estimamos que devemos chegar a algo como 10 milhões de I-RECs neste ano.”
Os certificados são emitidos para empresas que operam ativos renováveis que vão de hidrelétricas a usinas eólicas e solares ou à biomassa, após uma auditoria documental do Totum e pagamento de taxas. Cada I-REC equivale a 1 megawatt-hora em eletricidade.
Instalações solares de menor porte, conhecidas como geração distribuída, uma tecnologia que tem crescido rapidamente no Brasil, também podem obter certificação, segundo Lopes.
Ele disse que cerca de dois terços das emissões de I-RECs no país envolvem parques eólicos, enquanto o restante se divide entre usinas hídricas, solares e de biomassa.
Segundo ele, a demanda pelos I-RECs tem sido puxada por empresas que participam de índices de sustentabilidade corporativa de bolsas ou possuem metas de redução de emissões, uma vez que esses compromissos exigem alguma forma auditável de comprovação.
“As empresas, para terem essa chancela da rastreabilidade da energia, estão dispostas a pagar um valor por esse certificado”, disse Lopes, ao destacar a crescente adesão do mundo corporativo à agenda ambiental, de sustentabilidade e governança (ESG, na sigla em inglês).
O presidente da unidade de comercialização de energia da paranaense Copel, Franklin Kelly Miguel, disse à Reuters avaliar que houve um salto na demanda pelos I-RECs desde a eleição de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos, devido ao claro comprometimento do novo governo com energia verde.
“Com a eleição americana, os certificados passaram a ser demandados com maior frequência. Porque não adianta vender energia renovável para o cliente. Para fins de inventário, para cumprir todo o protocolo internacional, não serve para nada, eles precisam mesmo de uma certificação I-REC”, afirmou.
“Hoje, nós temos solicitação toda semana, toda semana tem cliente pedindo. Ano passado isso era demandado uma vez por mês. Grupos grandes, empresas cotadas em bolsa, essas praticamente todas estão exigindo certificação, e antes não tinha essa demanda.”
A Enel Trading, comercializadora de energia do grupo italiano Enel no Brasil, negociou no primeiro trimestre 1,5 milhão de I-RECs a serem entregues nos próximos anos, o que superou o montante de todo ano de 2020, de 1,39 milhão.
“Para a Enel Brasil, ser parceira de empresas que queiram contribuir com um futuro mais sustentável, engajadas na agenda ESG, é a comprovação do nosso compromisso de gerar valor para a sociedade por meio da inovação e da produção de energia limpa”, disse o chefe da empresa no país, Nicola Cotugno, em nota.
Entre os clientes compradores dos certificados a companhia listou a Transwolff, concessionária de transporte público da cidade de São Paulo que buscou comprovar o uso de energia solar para abastecer sua frota de ônibus elétricos, além de uma “grande rede varejista” não identificada.
A Enel disse que possui certificados oriundos de sua hidrelétrica Cachoeira Dourada, entre Goiás e Minas Gerais, e de usinas eólicas e solares no Rio Grande do Norte e Pernambuco.
(Por Luciano Costa)